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terça-feira, 27 de abril de 2010

Noite preta, borboletas e sombras

RELATO SESSÃO 3 | PIAÇABUÇU
Litoral Sul/AL
. 28/02, 19h – povoado Sudene - domingo
Público: 150 pessoas

QUANDO UMA BORBOLETA VOA NO CINEMA, AS ASAS SÃO NOSSAS. Cogitamos algumas vezes realizar a 2ª sessão de Piaçabuçu no Pontal do Peba, porém após muitas conversas e distribuições dos pesos nos pratos da balança, optamos pelo povoado Sudene, um pouco mais afastado do centro da cidade. A comunidade não é das maiores do lugar, mas a inexistência de ações culturais é gritante.

Na ausência de Maria Claúdia, que precisou voltar para Maceió mais cedo, Nataska assumiu a produção in loco da sessão com unhas e dentes. Já conhecia o povoado e com a ajuda de Alcir e Seu Rogério, conseguiu a divulgação na rádio local e a vela do Seu Neo para a exibição. Duas velas quadradas, as tradicionais borboletas do São Francisco, sendo uma a nossa vela branca de 4 metros e a outra tricolor azul, rosa e bege, onde duplicamos a projeção do filme como uma experimentação estética mais livre.

Encontramos um grupo de garotos que confeccionam miniaturas das embarcações do São Francisco com cortiça. Fazem as velas de sacos plásticos coloridos e colocam os barcos na água para disputar corrida, empurrados pelo vento. Ao conhecer os meninos, tivemos a idéia de contratá-los para personalizar o troféu Vento Nordeste e após alguma hesitação por nunca ter colocado preço no próprio trabalho, um dos garotos, Lucas, aceitou a proposta.

Ao som de clássicos da MPB e da música americana da Rádio Liberdade de Sergipe, limpamos a grande quantidade de folhas caídas da ingazeira na pequena praia que se formou na beira do rio. Sob a luz amarelada do final da tarde, estendemos as esteiras na areia para o público e novamente decoramos com fitas coloridas a curta extensão do terreno. Por vezes paramos para observar a passagem das ilhas flutuantes – pedaços de vegetação que bóiam nas águas do rio – com admiração e espanto pelas histórias contadas de ninhos de cobras que saem delas.

O espaço para a sessão ficou mais aconchegante e íntimo, e à noite, pareceu mais uma reunião de família com 150 pessoas. Como na exibição anterior, a embarcação foi colocada na beira da água, desta vez um pouco mais próxima da areia para garantir a estabilidade do barco com duas velas tão grandes. Utilizamos duas canoas de corrida para abrir os dois panos, pois estas permitem o encaixe de mastros maiores.

As duas projeções na noite completamente preta na beira do rio surpreenderam até mesmo os nossos olhos já acostumados com a estética do Acenda uma Vela. Até ali, era a sessão mais bonita da temporada. Crianças lotaram as esteiras e aplaudiram com força e naturalmente todos os filmes antes que Hermano dissesse uma palavra. O povo devorou o cinema de todo jeito. Namorados abraçados nas árvores, gente sentada na areia, olhos adolescentes mais atentos como se quisessem sugar toda e qualquer informação dos filmes. Teve até mesmo gente no camarote privilegiado da ingazeira, uma rede de dormir improvisada.

O cinema parecia de fato ter asas como uma borboleta colorida gigante, que encantou as crianças com a novidade da luz que saía de uma caixa formando imagens em movimento igualmente grandes. Muitas delas brincaram de criar sombras na segunda projeção, interagindo com partes dos filmes exibidos. Tocaram nos personagens e acharam, claro, tudo muito engraçado. Com água até a cintura, Nataska tirou fotografias de dentro do rio para garantir o registro mais amplo do espetáculo.

Enquanto MEOW e ATÉ O SOL RAIÁ fizeram explodir gargalhadas na garotada, SWEET KAROLYNNE e DESALMADA E ATREVIDA encantaram os adultos, que neste último cantaram os clássicos da música brega junto com a trilha do filme. Próximo ao final da sessão, Hermano decidiu exibir O JUMENTO E O SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR, em homenagem ao Padre Carlos de Piaçabuçu, seu amigo de longa data do Recife que veio prestigiar o cinema.

Perto das dez da noite, as crianças, contrariadas, abandonaram o cinema para ir dormir enquanto os pais lembravam a escola no dia seguinte e permaneciam ligados nos filmes. A sessão acabou perto das onze e recolhemos nosso circo mambembe em silêncio. Um silêncio muito menos do cansaço do que da certeza de uma noite inesquecível para o público e nós. Silêncio pela despedida das pessoas do povoado e do São Francisco, que àquela altura musicava nossos pensamentos de volta para casa com o balanço tranqüilo de suas águas.

[filmes exibidos na sessão 3]
/Acenda uma Velinha:
LEONEL PÉ-DE-VENTO [ Jair Giacomini
15 min / 2006 / RS]
PEIXE FRITO [Ricardo de Podestá
19 min / 2005 / GO]
ATÉ O SOL RAIÁ [Fernando Jorge e Leanndro Amorim
11 min / 2007 / PE]
MEOW [Marcos Magalhães
8 min / 1981 / RJ]
/Programação Geral:
A ILHA [Alê Camargo
9 min / 2009 / SP]
DESALMADA E ATREVIDA [Pedro da Rocha
25 min / 2008 / AL]
VIDA MARIA [Márcio Ramos
9 min / 2006 / CE]
O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR [LEO D e William Paiva
11 min / 2007 / PE]
VERMELHO RUBRO DO CÉU DA BOCA [Sofia Federico
18 min / 2005 / BA]
SWEET KAROLYNNE [Ana Bárbara Ramos
15 / 2009 / PB]
O PLANO DO CACHORRO [Arthur Lins e Ely Marques
10 min / 2009 / PB]

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