. ACENDA UMA VELA ANO 5 ||DEMOCRATIZE O CINEMA BRASILEIRO. FILMES SÃO FEITOS PARA SEREM VISTOS || PELOS DIREITOS DO PÚBLICO. NÓS SOMOS O PÚBLICO. realização: IDEÁRIO . patrocínio: MINISTÉRIO DA CULTURA (MinC) - FNC/Secretaria do Audiovisual E PRÊMIO ARETÉ - PROGRAMA CULTURA VIVA/Secretaria de Cidadania Cultural. parceria: PROGRAMADORA BRASIL e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMA DE ANIMAÇÃO . apoio: CINE + CULTURA, ALGÁS e RÁDIO EDUCATIVA / INSTITUTO ZUMBI DOS PALMARES

quinta-feira, 21 de maio de 2009

E o cinema na vela dança

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO

::: Maceió, Posto 7 / Jatiúca

Sábado, 28/03/09
Mostra geral e DJ LAETITIA (Igor de Araújo e Nilton Resende)

A sessão de Maceió é sempre a maior do projeto e quase sempre uma das mais trabalhosas. Apesar de não exigir viagens para a pré-produção, levamos duas semanas para realizá-la, pois a idéia era transformar a areia numa pista de dança, após os filmes, em comemoração aos 4 anos do projeto.

Inicialmente o evento seria na Praia de Pajuçara, porém, no retorno da sessão do Francês, ainda na van, a equipe resolveu fazer mais uma vez no Posto 7, assim como no verão de 2006. A praia é uma das mais badaladas da cidade durante a noite e possui fácil acesso e geografia interessante por ser mais baixa que o nível da rua (permitindo dois andares de platéia), além de um público fiel de moradores, comerciantes e principalmente grandes grupos de jovens que se reúnem na areia em rodas de vinho e violão.

O spot do projeto rodou na Rádio Educativa (IZP) durante a semana, com várias inserções durante o dia e a bicicleta de som, utilizada até então na divulgação das sessões em comunidades mais distantes e menores, desta vez rodou em Maceió, de Cruz das Almas até a Pajuçara, durante todo o sábado. O bombardeio de e-flyers por listas de e-mail e orkuts substituíram os panfletos e bandeirolas estendidas nas praias por onde o cinema na vela passa.

Acertamos a jangada na tarde anterior, como de costume, e um jangadeiro da Ponta Verde prometeu estar no local da exibição antes das três da tarde. Contratar as jangadas do projeto é uma tarefa de confiança e sorte. Não há contratos formalizados além dos feitos com a boca e os olhos e geralmente os pescadores sequer possuem telefones para contato. Temos sempre que ter um plano B, C ou até mesmo D, caso o aperto de mão não tenha sido forte o suficiente para garantir uma vela no horário marcado para o cinema. Apesar do risco, durante essas 4 edições, as velas furadas foram poucas.

15h de sábado e nem sinal da vela acertada no mar. Fomos à Ponta Verde procurar o pescador e soubemos que ele tomou umas cervejas a mais no dia anterior e sequer havia aparecido na praia naquela tarde. Os demais jogavam dominó enquanto também tomavam sua cervejinha de sábado e nenhum possuía disposição e jangada própria para alugar. Conseguimos entrar em contato com o Seu Sudoeste, um pescador já velhinho que veio ao nosso encontro pedalando devagar sua bicicleta. Estávamos perto do início da sessão, marcada para 18h, e o mar já estava bastante alto para levar o barco por água.

Seu Sudoeste aceitou alugar a embarcação, porém, pela sua idade, disse não ter mais segurança e força para navegar sozinho com o vento e as ondas do Posto 7. Os pescadores se reuniram com a equipe de produção e após muitos acertos e desacertos, concluiu-se que encostar o barco na praia sem risco de acidente seria impossível para qualquer um, tanto pelo local escolhido para a sessão quanto pelo mar daquela hora.

As estruturas de som e luzes alugadas para colorir a areia e o público já estavam montadas na praia sem jangada. Foi então que um pescador chamado Irmão Coragem concordou em ceder seu barco, contanto que pudesse ser levado por terra. Corremos para fretar um caminhão enquanto dez homens empurravam a jangada da areia para a pista que ainda não era a de dança. Foi necessário erquer a embarcação para colocá-la na caçamba e os olhares curiosos dos pedestres no ponto de ônibus observavam os gritos de peso da gota e eitcha cinema pesado da bobônica que eram emitidos pelos homens com o casco do barco na cabeça, como uma grande barata.

A vela chegou na rua da praia faltando 20 minutos para o início da sessão. O mais rápido que podíamos, montamos a estrutura de exibição e a mesa para a dupla de DJ's com a ajuda dos pescadores e da equipe de som. A sessão começou somente às 19h e tivemos sorte do público só ter chegado de fato neste horário. O que de início parecia uma sessão tímida, com algumas pessoas de pé diante da vela e na platéia de cima, aos poucos foi tomando as proporções da noite: um público de mais de 450 pessoas.

Por ser na capital, sempre podemos experimentar um número maior de diferentes filmes e temáticas, pois geralmente não há crianças e idosos na platéia e há mais possibilidades para filmes legendados com um público formado em grande parte por estudantes do ensino médio e universitários da mínima classe média da cidade. O videoclipe LELÊ (Carlos Dowling e Shiko), da música do paraibano Chico Corea, abriu a mostra de Maceió e em seguida, curtas nacionais e franceses se revesaram na vela.

Algumas animações da mostra francesa Résolument Animés ainda não exibidas em nenhuma sessão, encheram a tela do Posto 7 junto com as já experimentadas: A QUOI ÇA SERT L'AMOUR, EN TUS BRAZOS, EL DESAFIO A LA MUERTE e BERNI'S DOLL, além do curta de ficção GRATTE-PAPIER. Dos curtas nacionais, foram exibidos a ÁRVORE DA MISÉRIA (Marcus Vilar, PB), CAMPO BRANCO (Telmo Carvalho, CE), SÃO LUIS CALEIDOSCÓPIO (Hermano Figueiredo, AL), SALIVA (Esmir Filho, SP), PALÍNDROMO (Philippe Barcinski, SP), MANÉ GOSTOSO (Larissa Lisboa e Alice Jardim, AL), JANELA ABERTA (Philippe Barcinski, SP), MEOW (Marcos Magalhães, BSB) e DOSSIÊ RÊ BORDOSA (César Cabral, SP).

Os filmes foram bastante aplaudidos e ao final da sessão, a dupla de DJ's LAETITIA, formada por IGOR DE ARAÚJO e NILTON RESENDE, tomou conta da areia da praia que pulsava com as luzes coloridas. Interagindo com a música, a vela da jangada permaneceu acesa com a projeção de um vídeo experimental montado pela equipe do projeto, com cenas de filmes, frases de cineastas sobre a essência do cinema e um ensaio fotográfico de AMANDA NASCIMENTO. As imagens dançavam na vela enquanto o público se balançava ao som de diversos hit's, principalmente dos anos 70, 80 e 90.

A festa terminou à meia-noite para não incomodar o sono dos prédios vizinhos. Em seguida, ajudamos a colocar a vela na água escura (e agora calma), e o Irmão Coragem voltou para casa remando seu barco chamado Brisa.

Mais distante do cinema, jovens vestidos de preto tocavam violão ao redor de uma fogueira feita com pedaços de madeira e caixas de papelão. Para nossa surpresa, a poluição do ceú da capital permitiu que umas poucas estrelas despontassem na noite fresca de música e cinema.


[ GALERIA DE FOTOS :::




O cinema só se completa com o público:
mais de 450 pessoas de olho no curta-metragem
[Foto: Nataska Conrado]


O cinema na vela ilumina a noite
de nuvens e poucas estrelas no Posto 7
[Foto: Nataska Conrado]

Após os filmes, a areia, agora colorida, vira
pista de dança ao som da dupla de DJ's LAETITIA
[Foto: Nataska Conrado]


E esse cinema...
[Foto: Nataska Conrado]

... sem tela
[Foto: Nataska Conrado]


...que passa pela cidade.
[Foto: Nataska Conrado]


Sentado ou em pé na areia, o público assiste o último
filme da noite, DOSSIÊ RÊ BORDOSA. Ao fundo,
mais gente para o cinema no muro e nos bares
[Foto: Nataska Conrado]




terça-feira, 5 de maio de 2009

O Francês no escuro do cinema

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO

::: Marechal Deodoro, Praia do Francês
Sábado, 14/03/09
Mostra geral


A van que nos levou à praia do Francês estacionou na rua atrás do local da exibição logo após o almoço. A tarde estava extremamente luminosa e ainda havia um número significativo de pessoas nas barracas por toda a extensão de areia.

O Francês é uma das praias turísticas mais conhecidas de Alagoas. Fica no município de Marechal Deodoro, algo próximo de 20 km da capital. É praia de areia branca e fina, daquelas que rangem no contato com os pés. Lugar de nativos, pescadores, naturebas, surfistas e turistas, há de tudo um pouco (e às vezes até em muito aos domingos).

Deixamos os equipamentos no nosso ponto de apoio, a barraca do Seu Zé Rosa. A equipe da Ong Salsa de Praia, que nos ajudou na pré-produção durante a semana, veio ao nosso encontro. Nos deram um filme sobre a pesca predatória para que fosse exibido durante à noite, porém, a mídia estava com defeito e não conseguimos reproduzir.

A equipe saiu para panfletar e balançar as bandeiras fosforescentes do projeto enquanto havia sol. Metade rodou pelas ruas de dentro chamando os moradores, outra parte correndo de mesa em mesa cada barraca. Às seis e meia, cinema na vela, curtas-metragens brasileiros de graça, é só chegar e assistir. Quase todas as pessoas se espantam com a idéia do filme na embarcação.

Escureceu e a jangada veio chegando pelo mar. O mastro teve que ser improvisado, pois era grande demais para o barco. As crianças logo cercaram a vela para assistir a raspagem do mastro com um facão de côco. A vela, menor do que de costume, foi costurada especialmente para o evento por um pescador de Marechal.

A barraca do Seu Rosa fica em cima de um banco de areia, cercado por grandes coqueiros próximos. A elevação se transformou numa espécie de segundo andar para a platéia, que bebericava enquanto assistia ao cinema por cima das pessoas sentadas na areia ou em cadeiras plásticas, deitadas em cangas, de pé ou encostadas em bicicletas.

A praia estava em escuro absoluto e só os filmes iluminavam os rostos de gente. Sobre a vela, havia uma concentração intrigante de estrelas exatamente em linha reta, como uma extensão da projeção no céu. Ao lado da tela, um cachorro branco feito leite se aconchegou na areia já escura pela noite. O público foi de umas 140 pessoas e podíamos perceber claramente os agrupamentos distintos de pescadores nativos, turistas, surfistas adolescentes e grupos de casais na terceira idade. Um grupo de jovens da cidade de Boca da Mata também veio especialmente para a sessão.

Na programação, a ÁRVORE DA MISÉRIA, O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR, SALIVA, ATÉ O SOL RAIÁ, ONDE A CORUJA DORME, VINIL VERDE, DESALMADA E ATREVIDA, PALÍNDROMO, VIDA MARIA, o videoclipe LELÊ e as animações da mostra francesa BERNI'S DOLL e EL DESAFIO A LA MUERTE garantiram a exibição até aproximadamente dez da noite.

Um argentino perguntou ao Seu Zé Rosa o porquê do nome da praia e ele respondeu que era qualquer coisa sobre franceses que levavam um pau do Brasil pelas águas. Ao fundo, a cidade de Maceió criava um rastro luminoso e indefinido que pulsava lentamente enquanto a sessão acontecia em silêncio e brisa agradável.


[ GALERIA DE FOTOS :::


Luz e sombra. Cinema estrelado na praia do Francês.
[Foto: Nataska Conrado]

O público e a poltrona de areia. Importante mesmo é ver cinema.
[Foto: Nataska Conrado]

A criação do mundo em O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE
SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR
, de Leo D. e William Paiva (PE).
[Foto: Nataska Conrado]



segunda-feira, 4 de maio de 2009

Mais projeções em Maragogi

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO

::: Maragogi, Praia de Barra Grande
Sábado, 14/03/09
Mostra geral

Chegamos à praia de Barra Grande ainda de manhã e o mar estava de um azul celeste inacreditável. Procuramos a mesma pizzaria que nos apoiou no ano passado, mas suas paredes e alicerces haviam desaparecido do local e o beco estreito e relativamente charmoso ao lado dela se transformou em uma rua também relativamente larga.

Como de costume, procuramos alguém que nos cedesse energia elétrica e em seguida fomos atrás da nossa vela mais branca. Encontramos um pescador que aceitou receber a nossa gratificação para abrir sua vela à noite para o cinema e seu público, para as estrelas e o vento que mais tarde fez bochecha na tela triangular durante toda a sessão.

Fomos almoçar e tomar banho e voltamos mais tarde com um grupo de meninos que junto com a equipe, seguraram as bandeiras do projeto para divulgação. Rodamos pelas principais ruas do distrito chamando o povo para o cinema. Para nossa surpresa, a maré ainda estava muito alta e tivemos que procurar outro trecho mais recuado da praia para fazer as exibições.

Esta noite o público foi pequeno e companheiro: 60 pessoas que apreciaram a sessão até os créditos do último filme.


[ GALERIA DE FOTOS :::


ÁRVORE DA MISÉRIA, curta-metragem de
Marcus Vilar (PB), intrigou o público em Barra Grande.
[Foto: Nataska Conrado]


A premiada animação CAMPO BRANCO, de Telmo Carvalho (CE),
encantou as crianças com seu experimentalismo e colorido
das imagens dramáticas do sertanejo em meio à estiagem
[Foto: Nataska Conrado]


Um gato esfomeado fica sem leite e é convencido a tomar
um famoso refrigerante. MEOW, animação de Marcos Magalhães (BSB)
de 1981, arrancou gargalhadas e reflexão de crianças e adultos.
[Foto: Nataska Conrado]


Mãe dá a filha uma caixa cheia de velhos disquinhos coloridos.
A menina pode ouví-los, exceto um. VINIL VERDE,
de Kleber Mendonça Filho (PE), agradou os moradores do local
com sua estética estranha e montagem de suspense.
[Foto: Nataska Conrado]