Litoral Sul/AL
. 27/02, 19h 30 – centro - sábado
Público: 170 pessoas
O CINEMA É COMO UM TREM QUE AVANÇA A QUALQUER CUSTO. Após Japaratinga, a próxima sessão agendada era a de Piranhas, à beira do Rio São Francisco. Na quarta edição já havíamos tentado realizar o Acenda uma Vela na histórica canoa de tolda da cidade, porém as chuvas do período nos impediram com alguma antecedência. Desta vez, nem mesmo o céu limpo e as nuvens branquíssimas anunciadas durante a semana foram suficientes para confirmar a segunda empreitada. Nosso apoio na cidade furou às vésperas da sessão.
Eu e Hermano estávamos na Pré-conferência Setorial do Audiovisual, em Brasília, quando soubemos da notícia. Ele já tinha passagem comprada para Maceió e um final de semana sem Acenda uma Vela complicaria muito nosso calendário e finanças. O risco das últimas sessões coincidirem com o período mais forte de chuvas dos meses de março e abril era grande.
Apesar da tristeza pelo segundo cancelamento consecutivo de Piranhas, o cinema na vela precisava acontecer. Após reunião da produção com Maria Claúdia, Nataska e Hermano, a decisão por duas sessões em Piaçabuçu pareceu a mais viável àquela altura do campeonato: terreno familiar para a vela, apoio logístico na cidade e ainda às margens do São Francisco, como temos feito todos os anos.
A última vez que Piaçabuçu recebeu o projeto foi na 2ª edição, no verão de 2006. Era importante também voltar com novos filmes para a comunidade e a Ong Olha o Chico nos apoiou como anteriormente. Viabilizaram a divulgação e incluíram a sessão na programação do Sarau Cultural que realizam uma vez por mês na beira do rio.
Chegamos à cidade no final da manhã de sábado. Fomos direto a Olha o Chico acertar a divulgação e o local da exibição, onde nos instalamos logo após o almoço. Ficamos hospedados na casa de Alcir e Seu Rogério, pai de Nataska, que abriram as portas do seu simples paraíso de forma tão carinhosa que nos deixou mal acostumados até o final da temporada.
A cidade estava calma e os barcos já recolhidos formavam uma bagunça organizada no cais. As cores do entardecer na foz do São Francisco são de comover os olhos de qualquer um. O céu manchado de azul, lilás, abóbora e amarelo, se misturava às diversas cores das embarcações belamente amontoadas na beira do rio como se fossem brinquedos. O cheiro forte de peixe aos poucos ia dando lugar ao cheiro da cerveja dos pescadores, das árvores no final de tarde, do sabão das mulheres que lavavam roupa à margem do rio, espumando as calçadas.
Os gritos das crianças eram música na calmaria e hipnotizavam na brincadeira os passantes. Os meninos diziam dar saltos triplos que nada tinham a ver com acrobacia aquática, e sim, mergulhos de mãos dadas em trio, correndo do meio da rua e pulando direto da escadaria da margem para o rio.
Mais tarde, destoando da calma paisagem, um carrinho de cd’s piratas embalava um grupo de bêbados em um funk da pior qualidade. Começamos a montar os equipamentos ao lado da lanchonete Foz do São Francisco, onde estendemos esteiras na faixa de calçada mais alta na margem do rio. Não demorou que o teste de som com um cd de Djavan invadisse o espaço sonoro para alívio dos nossos ouvidos e reclamações de um bêbado eclético, que pedia aos gritos para tocar Luiz Gonzaga e Kelly Key.
Começamos quase às 20h, com o início do Sarau Cultural. Abrimos com a projeção de LELÊ e 10 CENTAVOS e em seguida, programamos animações que costumam agradar adultos e crianças, pois sabíamos que era uma sessão atípica e mais curta, onde teríamos que segurar todo tipo de público. Para nossa surpresa, o curta PEIXE FRITO arrancou risadas de vários pescadores presentes, que chegaram a perguntar onde comprar o filme para mostrar aos colegas.
Sarau Cultural, do nosso parceiro Olha o Chicoe o cinema na vela
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
Foi uma noite bastante diferente e em clima de festa, com o sorteio de kits de leitura da Ideário para as crianças como se fosse um bingo de igreja entre aplausos constantes. Entre um sorteio e outro, um verso aqui e uma música acolá, emplacávamos um curta-metragem. A mistura se revelou interessante pela oportunidade de participar de uma iniciativa organizada pela própria comunidade. Misturar o cinema com a cultura popular e a diversão cotidiana local, participar e enriquecer a construção coletiva.
O cinema flutua no Rio São Francisco, entre luzes e sombras
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
Um dos primeiros sorteados da noite
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
Um menino gordinho de nome Alexandre, perguntava a cada quinze minutos se aquele era o último filme da noite, pois ele “tinha que se acordar cedinho” e queria que a sessão terminasse logo para que não fosse o único a ir para a cama sem ter visto a última projeção.
Alexandre com a velinha número 1 da noite
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
E entre repentes e músicas de rodas de violão adolescentes, vieram os dois últimos filmes, SWEET KAROLYNNE e AVE MARIA OU MÃE DOS SERTANEJOS, para satisfação da curiosidade do gordinho. Risadas no primeiro, silêncio no segundo, que apagou nossa vela quadrada, típica da região, com muita poesia e sensibilidade.
Sweet Karolynne,
de Ana Bárbara Ramos
[foto \ Nataska Conrado]
de Ana Bárbara Ramos
[foto \ Nataska Conrado]
Recolhemos as esteiras destruídas pela algazarra das crianças nos intervalos e voltamos no ônibus um tanto cansados, mas sem perder a alegria. A imitação das falas da personagem Karolynne, que gosta “mesmo é da graxinha” e da narração digna de prêmio de VINIL VERDE, nos embalaram até a hora de dormir.
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[foto \ Nataska Conrado]
[filmes exibidos na sessão 2]
/Programação Geral:
LELÊ [Carlos Dowling e Shiko
4 min / 2008 / PB]
10 CENTAVOS [César Fernando Oliveira
19 min / 2007 / BA]
PEIXE FRITO [Ricardo de Podestá
19 min / 2005 / GO]
VINIL VERDE [Kléber Mendonça
16 min / 2004 / PE]
HISTORIETAS ASSOMBRADAS (PARA CRIANÇAS MALCRIADAS) [Vitor-Hugo Borges
15 min / 2005 / SP]
ATÉ O SOL RAIÁ [Fernando Jorge e Leanndro Amorim
11 min / 2007 / PE]
MEOW [Marcos Magalhães
8 min / 1981 / RJ]
SWEET KAROLYNNE [Ana Bárbara Ramos
15 / 2009 / PB]
AVE MARIA OU MÃE DOS SERTANEJOS [Camilo Cavalcante
12 min / 2009/PE]
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