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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cinema, mosquitos e despedida

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO
::: Marechal Deodoro, Massagüeira / Lagoa Mangüaba
Sexta-feira, 17/04/09
Mostra geral

Tarde fria. A lagoa Mangüaba estava lisa e espelhada quando chegamos, como promessa de chuva. Poucas pessoas passavam nas ruelas da Massagüeira e fora o barulho da retirada dos equipamentos da van, o dia morria em silêncio e mosquitos. Não demorou para que alguns barcos acrescentassem ao silêncio o ronco de seus motores, deixando rastros na água que se estendiam até mesmo por minutos.

A equipe de produção já tinha feito, durante a semana, uma verdadeira peregrinação atrás de uma embarcação à vela que pudesse ser usada para o cinema. Quem não conhece a Massagüeira não imagina a quantidade de ruelas e caminhos que esconde, principalmente quando se busca o Seu Zequinha, dono da vela alugada para a sessão.

Não era pesada como as jangadas de costume e também não era jangada, nem canoa, nem vela. "Isso é barco", disse-nos ele. E não precisava de força para ser carregado e sim, muito jeito para passá-lo pelos espaços estreitos entre os bancos e árvores da praça central, em frente à Igreja Divina Pastora, local escolhido para a exibição.

De um lado a Igreja, fechada naquele dia, em seguida uma rua de pedras e assim a praça, com uma cruz de uns 3 metros de altura cravada no meio, mais perto da balaustrada. E depois já era lagoa e na outra margem, a Ilha das Cabras, com poucas casas silenciosas e janelas à meia-luz.

Equipamentos montados, vela no mastro, o mastro no barco. Dvd "teste" enquanto as cigarras e o ranger da cama elástica, instalada mais ao canto da praça para as crianças, davam melodia ao silêncio naquele fim de tarde. Algumas famílias começaram a chegar de barco para ver o cinema de pé na embarcação, no meio do breu da lagoa.

Começou a chuviscar e os mosquitos devoravam as pernas inocentemente descobertas. Uma das crianças nos mostrou a direção de uma banquinha onde havia repelente e usamos quase todo o frasco para banhar a equipe. Às dezoito horas a vela já estava montada com os equipamentos, porém, uma chuvinha fina fez com que o primeiro filme da noite, O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR, começasse mesmo apenas às dezenove e quinze.

O público, no início composto em sua quase totalidade por crianças, aos poucos foi se tornando mais heterogêneo e participativo: 220 pessoas que gargalhavam, cantavam e batiam palmas com os filmes, principalmente com os de maior apelo popular, como ATÉ O SOL RAIÁ e DESALMADA E ATREVIDA. Em A ÁRVORE DA MISÉRIA, as risadas altas embalaram a armadilha de D. Miséria para a morte. O eleito clássico do terror para crianças em nossas exibições itinerantes, o curta VINIL VERDE, arrancou gritos e manifestações de bis de quase todos os presentes, e mães satisfeitas diziam em alto e bom som para os filhos: "Tá vendo o que acontece com criança que não obedece?".

Na programação da noite, O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR (Leo D e William Paiva, PE), VIDA MARIA (Márcio Ramos, CE), ATÉ O SOL RAIÁ (Fernando Jorge e Leandro Amorim, PE), DESALMADA E ATREVIDA (Pedro da Rocha, AL), A ÁRVORE DA MISÉRIA (Marcos Vilar, PB), VINIL VERDE (Kléber Mendonça, PE), CAMPO BRANCO (Telmo Carvalho, CE) e PALÍNDROMO (Philippe Barcinski, SP).

Uma grande platéia se formou na escadaria da igreja, mais ao fundo da sessão, e grupos de crianças se juntaram atrás da vela para ver o cinema mais de perto. Motocicletas e bicicletas faziam as vezes de poltronas para os casais de namorados, assim como um antigo Gol BX, modelo popular nos anos 80, servia de parada, com as portas escancaradas, para cinco marmanjos que gargalhavam com os filmes e tomavam uma cervejinha apoiada em um engradado de refrigerantes. Uma banca de sorvetes, vermelha e enferrujada, reunia senhoras e suas filhas para a sessão.

A programação geral terminou às dez da noite, pois havia um bingo marcado na igreja para arrecadar os fundos da festa da padroeira. A cartela custava 2 reais, e entre os prêmios, cachos de banana, bandejas de coxinhas e maçãs do amor. No alto da vela, em linha perfeita com o mastro, as três marias marcavam, nostalgicamente, a última projeção da noite e da temporada, assim como na primeira sessão em Marechal.

Recolhemos nosso cinema entre chuviscos, gritos de números e bingo, e novamente, muita saudade.


GALERIA DE FOTOS :::



Início da sessão com O JUMENTO SANTO E A CIDADE
QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR
, com um público ainda pequeno.
[Foto: Nataska Conrado]

O público cresce para ver cinema brasileiro de curta-metragem.
[Foto: Nataska Conrado]

Câmera escondida. Olhos vidrados em VINIL VERDE.
[Foto: Nataska Conrado]

DESALMADA E ATREVIDA. Motos e bicicletas trazem uma
platéia itinerante, assim como o cinema na vela.
[Foto: Nataska Conrado]

220 pessoas do meio da sessão até o final.
O Acenda uma Vela se despede da equipe
e do seu público até a próxima temporada.
[Foto: Nataska Conrado]

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