. ACENDA UMA VELA ANO 5 ||DEMOCRATIZE O CINEMA BRASILEIRO. FILMES SÃO FEITOS PARA SEREM VISTOS || PELOS DIREITOS DO PÚBLICO. NÓS SOMOS O PÚBLICO. realização: IDEÁRIO . patrocínio: MINISTÉRIO DA CULTURA (MinC) - FNC/Secretaria do Audiovisual E PRÊMIO ARETÉ - PROGRAMA CULTURA VIVA/Secretaria de Cidadania Cultural. parceria: PROGRAMADORA BRASIL e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMA DE ANIMAÇÃO . apoio: CINE + CULTURA, ALGÁS e RÁDIO EDUCATIVA / INSTITUTO ZUMBI DOS PALMARES

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cinema, mosquitos e despedida

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO
::: Marechal Deodoro, Massagüeira / Lagoa Mangüaba
Sexta-feira, 17/04/09
Mostra geral

Tarde fria. A lagoa Mangüaba estava lisa e espelhada quando chegamos, como promessa de chuva. Poucas pessoas passavam nas ruelas da Massagüeira e fora o barulho da retirada dos equipamentos da van, o dia morria em silêncio e mosquitos. Não demorou para que alguns barcos acrescentassem ao silêncio o ronco de seus motores, deixando rastros na água que se estendiam até mesmo por minutos.

A equipe de produção já tinha feito, durante a semana, uma verdadeira peregrinação atrás de uma embarcação à vela que pudesse ser usada para o cinema. Quem não conhece a Massagüeira não imagina a quantidade de ruelas e caminhos que esconde, principalmente quando se busca o Seu Zequinha, dono da vela alugada para a sessão.

Não era pesada como as jangadas de costume e também não era jangada, nem canoa, nem vela. "Isso é barco", disse-nos ele. E não precisava de força para ser carregado e sim, muito jeito para passá-lo pelos espaços estreitos entre os bancos e árvores da praça central, em frente à Igreja Divina Pastora, local escolhido para a exibição.

De um lado a Igreja, fechada naquele dia, em seguida uma rua de pedras e assim a praça, com uma cruz de uns 3 metros de altura cravada no meio, mais perto da balaustrada. E depois já era lagoa e na outra margem, a Ilha das Cabras, com poucas casas silenciosas e janelas à meia-luz.

Equipamentos montados, vela no mastro, o mastro no barco. Dvd "teste" enquanto as cigarras e o ranger da cama elástica, instalada mais ao canto da praça para as crianças, davam melodia ao silêncio naquele fim de tarde. Algumas famílias começaram a chegar de barco para ver o cinema de pé na embarcação, no meio do breu da lagoa.

Começou a chuviscar e os mosquitos devoravam as pernas inocentemente descobertas. Uma das crianças nos mostrou a direção de uma banquinha onde havia repelente e usamos quase todo o frasco para banhar a equipe. Às dezoito horas a vela já estava montada com os equipamentos, porém, uma chuvinha fina fez com que o primeiro filme da noite, O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR, começasse mesmo apenas às dezenove e quinze.

O público, no início composto em sua quase totalidade por crianças, aos poucos foi se tornando mais heterogêneo e participativo: 220 pessoas que gargalhavam, cantavam e batiam palmas com os filmes, principalmente com os de maior apelo popular, como ATÉ O SOL RAIÁ e DESALMADA E ATREVIDA. Em A ÁRVORE DA MISÉRIA, as risadas altas embalaram a armadilha de D. Miséria para a morte. O eleito clássico do terror para crianças em nossas exibições itinerantes, o curta VINIL VERDE, arrancou gritos e manifestações de bis de quase todos os presentes, e mães satisfeitas diziam em alto e bom som para os filhos: "Tá vendo o que acontece com criança que não obedece?".

Na programação da noite, O JUMENTO SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR (Leo D e William Paiva, PE), VIDA MARIA (Márcio Ramos, CE), ATÉ O SOL RAIÁ (Fernando Jorge e Leandro Amorim, PE), DESALMADA E ATREVIDA (Pedro da Rocha, AL), A ÁRVORE DA MISÉRIA (Marcos Vilar, PB), VINIL VERDE (Kléber Mendonça, PE), CAMPO BRANCO (Telmo Carvalho, CE) e PALÍNDROMO (Philippe Barcinski, SP).

Uma grande platéia se formou na escadaria da igreja, mais ao fundo da sessão, e grupos de crianças se juntaram atrás da vela para ver o cinema mais de perto. Motocicletas e bicicletas faziam as vezes de poltronas para os casais de namorados, assim como um antigo Gol BX, modelo popular nos anos 80, servia de parada, com as portas escancaradas, para cinco marmanjos que gargalhavam com os filmes e tomavam uma cervejinha apoiada em um engradado de refrigerantes. Uma banca de sorvetes, vermelha e enferrujada, reunia senhoras e suas filhas para a sessão.

A programação geral terminou às dez da noite, pois havia um bingo marcado na igreja para arrecadar os fundos da festa da padroeira. A cartela custava 2 reais, e entre os prêmios, cachos de banana, bandejas de coxinhas e maçãs do amor. No alto da vela, em linha perfeita com o mastro, as três marias marcavam, nostalgicamente, a última projeção da noite e da temporada, assim como na primeira sessão em Marechal.

Recolhemos nosso cinema entre chuviscos, gritos de números e bingo, e novamente, muita saudade.


GALERIA DE FOTOS :::



Início da sessão com O JUMENTO SANTO E A CIDADE
QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR
, com um público ainda pequeno.
[Foto: Nataska Conrado]

O público cresce para ver cinema brasileiro de curta-metragem.
[Foto: Nataska Conrado]

Câmera escondida. Olhos vidrados em VINIL VERDE.
[Foto: Nataska Conrado]

DESALMADA E ATREVIDA. Motos e bicicletas trazem uma
platéia itinerante, assim como o cinema na vela.
[Foto: Nataska Conrado]

220 pessoas do meio da sessão até o final.
O Acenda uma Vela se despede da equipe
e do seu público até a próxima temporada.
[Foto: Nataska Conrado]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cinema para poucos olhos e muitas gargalhadas

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO
::: Maceió, Vergel do Lago / Lagoa Mundaú
Quinta-feira, 02/04/09
Mostra geral
Evento organizado pelos jovens do Ponto de Cultura Ideário

Chegamos com os jovens ao local ainda às três da tarde. Ventava muito e transportamos os equipamentos da van até o nosso ponto de apoio, o bar da Dona Cícera. O local escolhido para exibição foi a Praça do Milênio e durante toda tarde a bicleta de som passou pela comunidade avisando a chegada do cinema.

Sabíamos da dificuldade de público para aquela noite, pois as famílias do Vergel não costumam sair de casa após a hora do café pelo perigo da região. Para nossa sorte, um dos jovens do Ponto de Cultura pertencia à comunidade e através dele, conseguimos autorização do grupo que "controla o pedaço" e gentilmente aceitou dividí-lo com o nosso cinema.

Não pudemos colocar a vela na água, pois ficaria muito mais baixa que a platéia pela geografia do local, dificultando a visibilidade. Com a ajuda de moradores da comunidade, os jovens trouxeram a embarcação para cima, colocando-a em um pedaço de grama próximo à lagoa Mundaú. Tivemos que improvisar a fixação do mastro e seu ajuste à vela do projeto, pois a original da embarcação era negra e embaçada, assim o céu naquela noite de nuvens mais escuras e alguns chuviscos.

O evento começou às 18h e a jovem apresentadora Carla, de apenas 16 anos, surpreendeu a todos pela desenvoltura ao microfone, e entre gírias articuladas de forma séria pela responsabilidade da função, animou as crianças, idosos e adultos que aos poucos apareciam para a sessão. Ainda no início da exibição, Alverite Jr., um dos jovens produtores e moradores da comunidade, concedeu entrevista à TV Educativa local com bastante segurança e falou da importância de levar o cinema para comunidades que não tem acesso aos bens culturais e da sua emoção ao trabalhar para que o Acenda uma Vela acontecesse no seu bairro.

A mostra foi aberta com o videoclipe LELÊ e foi composta em sua maioria por animações, pois era grande o número de pequenos de pés descalços diante da vela. Somente após o meio da noite, as crianças começaram a ir dormir e mais adultos saíram de suas casas, o que trouxe para a vela os filmes de ficção de temática mais reflexiva, como ÁRVORE DA MISÉRIA e VIDA MARIA.

Na programação da noite, estavam LELÊ (Carlos Dowling e Shiko, PB), ATÉ O SOL RAIÁ (Fernando Jorge e Leanndro Amorim, PE), MEOW (Marcos Magalhães, BSB), VINIL VERDE (Kléber Mendonça, PE), HISTORIETAS ASSOMBRADAS PARA CRIANÇAS MAL-CRIADAS (Vítor Hugo Borges, SP), DESALMADA E ATREVIDA (Pedro da Rocha, AL), ÁRVORE DA MISÉRIA (Marcos Vilar, PB), VIDA MARIA (Márcio Ramos, CE) e A VELHA A FIAR (Humberto Mauro, RJ).

O filme mais comemorado da noite foi a animação MEOW, de 1981, que levou o público às gargalhadas. No final, as crianças cantaram aos gritos, junto com a apresentadora, a música Atirei o pau no gato, pois um dos meninos da platéia tinha como apelido o nome do filme.

O público foi pequeno, 100 pessoas, porém bastante animado e participativo. Ao final da sessão, as crianças correram em direção à vela para tentar tocar na luz que estranhamente contava histórias e trazia o cinema para os olhos supresos.


[GALERIA DE FOTOS :::


Vista da Praça do Milênio, Vergel. A vela, pequena e
iluminada, divide o espaço com as estruturas de concreto.
[Foto: Nataska Conrado]



Crianças na frente, adultos na fileira de trás.
Cadeiras de plástico viram poltrona no cinema de rua.
[Foto: Nataska Conrado]


Junto à vela, Carla, a jovem apresentadora: 16 anos e
desenvoltura ao falar de cinema ao microfone
[Foto: Nataska Conrado]

Público e cinema se encaram. Gargalhadas e descontração
com a animação pernambucana
ATÉ O SOL RAIÁ
[Foto: Nataska Conrado]


Uma equipe de jovens cineclubistas


A sessão do Dique Estrada, no bairro maceioense Vergel do Lago, às margens da lagoa Mundaú, foi bastante peculiar, principalmente por dois motivos: iniciou a etapa voltada para Formação Cineclubista desta edição e foi organizada pelos jovens do Ponto de Cultura Ideário (PCI), que pela primeira vez experimentaram atuar como profissionais do projeto nas mais diversas funções. Durante a semana de 25 de março até 02 de abril, dia da exibição, os jovens passaram pelo LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO DO ACENDA UMA VELA, dividido em duas partes ministradas por Nataska Conrado, Maria Claúdia e Graça Cavalcante.

Na primeira, mais teórica e reflexiva, foi apresentada a proposta de união do Acenda uma Vela com o Ponto de Cultura, histórico e objetivos de democratização audiovisual do projeto, estruturação e divulgação, equipe, funções, atribuições, culminando com um ensaio prático da sessão programada para o Vergel. Nele, os 12 jovens organizaram uma sessão de cinema na comunidade periférica Novo Horizonte, no bairro de Cruz das almas, onde tiveram a chance de experimentar e analisar as dificuldades do processo.

Na segunda etapa, mais laboratorial, os jovens se dividiram em equipes espelhadas nas funções exercidas pela equipe original do AUV4: curadores, produtores e assistentes, fotógrafos, cinegrafista e apresentadora começaram a cumprir suas agendas de atividades para a realização do evento programado para o Dique Estrada no dia 02. A equipe original do Acenda uma Vela ficou responsável pela divulgação nos meios de comunicação e providências relacionadas à transporte e alimentação, além de acompanhar o desempenho e auxiliar os diferentes grupos de produção.

As atividades foram divididas voluntariamente entre os jovens, compondo a equipe abaixo. A equipe original do projeto também fez o registro do evento em fotografia e vídeo.

PRÉ-PRODUÇÃO:
Produtores: Vanessa e Alverite Jr.
Assistentes de produção: José Pinto, Jaqueline, Ádria, Klérik
Curadores: Alisson, Geraldo, Shirley e Júnior

PRODUÇÃO:
Produção: Vanessa e Alverite Jr.
Apresentadora: Carla
Operador Técnico: Alisson
Fotógrafos: Jaqueline e Jandi
Cinegrafista: Ádria

Os jovens do PCI conseguiram organizar a sessão com sucesso e com poucos problemas de produção, o que os encheu de orgulho pelo bom trabalho realizado. Com o processo, eles puderam se aproximar e compreender na prática a importância da democratização do acesso à cultura e se sentiram mais seguros para propor ações semelhantes nas comunidades onde moram.


[GALERIA DE FOTOS :::


Sessão "teste" organizada pelos jovens do PCI
na comunidade Novo Horizonte, Cruz das Almas
[Foto: Nataska Conrado]

[Foto: Nataska Conrado]



[Foto: Nataska Conrado]