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quinta-feira, 21 de maio de 2009

E o cinema na vela dança

[ACENDA UMA VELA, 4ª EDIÇÃO

::: Maceió, Posto 7 / Jatiúca

Sábado, 28/03/09
Mostra geral e DJ LAETITIA (Igor de Araújo e Nilton Resende)

A sessão de Maceió é sempre a maior do projeto e quase sempre uma das mais trabalhosas. Apesar de não exigir viagens para a pré-produção, levamos duas semanas para realizá-la, pois a idéia era transformar a areia numa pista de dança, após os filmes, em comemoração aos 4 anos do projeto.

Inicialmente o evento seria na Praia de Pajuçara, porém, no retorno da sessão do Francês, ainda na van, a equipe resolveu fazer mais uma vez no Posto 7, assim como no verão de 2006. A praia é uma das mais badaladas da cidade durante a noite e possui fácil acesso e geografia interessante por ser mais baixa que o nível da rua (permitindo dois andares de platéia), além de um público fiel de moradores, comerciantes e principalmente grandes grupos de jovens que se reúnem na areia em rodas de vinho e violão.

O spot do projeto rodou na Rádio Educativa (IZP) durante a semana, com várias inserções durante o dia e a bicicleta de som, utilizada até então na divulgação das sessões em comunidades mais distantes e menores, desta vez rodou em Maceió, de Cruz das Almas até a Pajuçara, durante todo o sábado. O bombardeio de e-flyers por listas de e-mail e orkuts substituíram os panfletos e bandeirolas estendidas nas praias por onde o cinema na vela passa.

Acertamos a jangada na tarde anterior, como de costume, e um jangadeiro da Ponta Verde prometeu estar no local da exibição antes das três da tarde. Contratar as jangadas do projeto é uma tarefa de confiança e sorte. Não há contratos formalizados além dos feitos com a boca e os olhos e geralmente os pescadores sequer possuem telefones para contato. Temos sempre que ter um plano B, C ou até mesmo D, caso o aperto de mão não tenha sido forte o suficiente para garantir uma vela no horário marcado para o cinema. Apesar do risco, durante essas 4 edições, as velas furadas foram poucas.

15h de sábado e nem sinal da vela acertada no mar. Fomos à Ponta Verde procurar o pescador e soubemos que ele tomou umas cervejas a mais no dia anterior e sequer havia aparecido na praia naquela tarde. Os demais jogavam dominó enquanto também tomavam sua cervejinha de sábado e nenhum possuía disposição e jangada própria para alugar. Conseguimos entrar em contato com o Seu Sudoeste, um pescador já velhinho que veio ao nosso encontro pedalando devagar sua bicicleta. Estávamos perto do início da sessão, marcada para 18h, e o mar já estava bastante alto para levar o barco por água.

Seu Sudoeste aceitou alugar a embarcação, porém, pela sua idade, disse não ter mais segurança e força para navegar sozinho com o vento e as ondas do Posto 7. Os pescadores se reuniram com a equipe de produção e após muitos acertos e desacertos, concluiu-se que encostar o barco na praia sem risco de acidente seria impossível para qualquer um, tanto pelo local escolhido para a sessão quanto pelo mar daquela hora.

As estruturas de som e luzes alugadas para colorir a areia e o público já estavam montadas na praia sem jangada. Foi então que um pescador chamado Irmão Coragem concordou em ceder seu barco, contanto que pudesse ser levado por terra. Corremos para fretar um caminhão enquanto dez homens empurravam a jangada da areia para a pista que ainda não era a de dança. Foi necessário erquer a embarcação para colocá-la na caçamba e os olhares curiosos dos pedestres no ponto de ônibus observavam os gritos de peso da gota e eitcha cinema pesado da bobônica que eram emitidos pelos homens com o casco do barco na cabeça, como uma grande barata.

A vela chegou na rua da praia faltando 20 minutos para o início da sessão. O mais rápido que podíamos, montamos a estrutura de exibição e a mesa para a dupla de DJ's com a ajuda dos pescadores e da equipe de som. A sessão começou somente às 19h e tivemos sorte do público só ter chegado de fato neste horário. O que de início parecia uma sessão tímida, com algumas pessoas de pé diante da vela e na platéia de cima, aos poucos foi tomando as proporções da noite: um público de mais de 450 pessoas.

Por ser na capital, sempre podemos experimentar um número maior de diferentes filmes e temáticas, pois geralmente não há crianças e idosos na platéia e há mais possibilidades para filmes legendados com um público formado em grande parte por estudantes do ensino médio e universitários da mínima classe média da cidade. O videoclipe LELÊ (Carlos Dowling e Shiko), da música do paraibano Chico Corea, abriu a mostra de Maceió e em seguida, curtas nacionais e franceses se revesaram na vela.

Algumas animações da mostra francesa Résolument Animés ainda não exibidas em nenhuma sessão, encheram a tela do Posto 7 junto com as já experimentadas: A QUOI ÇA SERT L'AMOUR, EN TUS BRAZOS, EL DESAFIO A LA MUERTE e BERNI'S DOLL, além do curta de ficção GRATTE-PAPIER. Dos curtas nacionais, foram exibidos a ÁRVORE DA MISÉRIA (Marcus Vilar, PB), CAMPO BRANCO (Telmo Carvalho, CE), SÃO LUIS CALEIDOSCÓPIO (Hermano Figueiredo, AL), SALIVA (Esmir Filho, SP), PALÍNDROMO (Philippe Barcinski, SP), MANÉ GOSTOSO (Larissa Lisboa e Alice Jardim, AL), JANELA ABERTA (Philippe Barcinski, SP), MEOW (Marcos Magalhães, BSB) e DOSSIÊ RÊ BORDOSA (César Cabral, SP).

Os filmes foram bastante aplaudidos e ao final da sessão, a dupla de DJ's LAETITIA, formada por IGOR DE ARAÚJO e NILTON RESENDE, tomou conta da areia da praia que pulsava com as luzes coloridas. Interagindo com a música, a vela da jangada permaneceu acesa com a projeção de um vídeo experimental montado pela equipe do projeto, com cenas de filmes, frases de cineastas sobre a essência do cinema e um ensaio fotográfico de AMANDA NASCIMENTO. As imagens dançavam na vela enquanto o público se balançava ao som de diversos hit's, principalmente dos anos 70, 80 e 90.

A festa terminou à meia-noite para não incomodar o sono dos prédios vizinhos. Em seguida, ajudamos a colocar a vela na água escura (e agora calma), e o Irmão Coragem voltou para casa remando seu barco chamado Brisa.

Mais distante do cinema, jovens vestidos de preto tocavam violão ao redor de uma fogueira feita com pedaços de madeira e caixas de papelão. Para nossa surpresa, a poluição do ceú da capital permitiu que umas poucas estrelas despontassem na noite fresca de música e cinema.


[ GALERIA DE FOTOS :::




O cinema só se completa com o público:
mais de 450 pessoas de olho no curta-metragem
[Foto: Nataska Conrado]


O cinema na vela ilumina a noite
de nuvens e poucas estrelas no Posto 7
[Foto: Nataska Conrado]

Após os filmes, a areia, agora colorida, vira
pista de dança ao som da dupla de DJ's LAETITIA
[Foto: Nataska Conrado]


E esse cinema...
[Foto: Nataska Conrado]

... sem tela
[Foto: Nataska Conrado]


...que passa pela cidade.
[Foto: Nataska Conrado]


Sentado ou em pé na areia, o público assiste o último
filme da noite, DOSSIÊ RÊ BORDOSA. Ao fundo,
mais gente para o cinema no muro e nos bares
[Foto: Nataska Conrado]




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