. ACENDA UMA VELA ANO 5 ||DEMOCRATIZE O CINEMA BRASILEIRO. FILMES SÃO FEITOS PARA SEREM VISTOS || PELOS DIREITOS DO PÚBLICO. NÓS SOMOS O PÚBLICO. realização: IDEÁRIO . patrocínio: MINISTÉRIO DA CULTURA (MinC) - FNC/Secretaria do Audiovisual E PRÊMIO ARETÉ - PROGRAMA CULTURA VIVA/Secretaria de Cidadania Cultural. parceria: PROGRAMADORA BRASIL e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMA DE ANIMAÇÃO . apoio: CINE + CULTURA, ALGÁS e RÁDIO EDUCATIVA / INSTITUTO ZUMBI DOS PALMARES

quarta-feira, 10 de março de 2010

Cinema, cal e anjo Nego

::: RELATO SESSÃO 1 | JAPARATINGA
Litoral Norte/AL
20/02, 19h - Sábado
Público: 320 pessoas

NO CINEMA OS DIAS SÃO DIFERENTES, AS NOITES ESPECIAIS. Assim que Maria Cláudia (produtora executiva) e Edisangela (assistente de produção) desceram do carro em Japaratinga para a pré-produção numa quinta-feira antes do carnaval, encontraram o mar azul cristalino do litoral norte e um simpático dono de restaurante beira-mar com quem logo iniciaram uma conversa:

Uma jangada de vela branca? Um jangadeiro amigo meu que navega aqui tem. Gravação de spot pra rodar na bicicleta de som? Ah, rapaz, é só falar com Seu Coisinho. Ponto de energia pode puxar do meu bar na boa e refeição pode fazer aqui mesmo que tenho nota fiscal. Hospedagem, é? Tá inaugurando uma pousada aqui do lado que eu posso levar vocês lá, aposto que dão desconto. E assim começou a 5ª temporada, com uma pré-produção local levantada em cinco minutos de conversa com um anjo sorridente conhecido como Nego do Mama Pereira, em um lugar que nunca havia recebido o Acenda uma Vela antes. (E tem anjo negro, tem? Perguntou ele achando graça).

A viagem com a equipe toda aconteceu na manhã do sábado logo após a quarta-feira de cinzas. Alugamos uma van e pela primeira vez transportamos todos os equipamentos fora do espaço dos passageiros, em uma carrocinha acoplada ao fundo do carro. Apesar do maior espaço desta vez, dormir no caminho foi uma tarefa complicada e digna de contorcionismos múltiplos. Eram muitos os assentos, porém o espaço para as pernas não era proporcional. Quase duas horas de viagem, chegamos à Japaratinga onde uma estátua igualmente desproporcional de Padre Cícero nos recebeu logo na entrada do povoado.

Mochilas na pousada, aquele que àquela altura já era o nosso Nego ou então O mama, estava pronto para repassar todas as informações novas desde a última visita. Ele havia mandado e-mails para os amigos e pousadas da região, além de ter feito um boca a boca mais poderoso que fofoca em dia de missa e mais rápido que a bicicleta de som anunciando a sessão de cinema. O "nosso relações públicas" caído do céu e com escritório na praia até parecia de mentira de tão providencial para uns e galanteador para outras.

A jangada não tardou a chegar pelo mar, naquele dia um pouco mais escuro que o normal pela leve ameaça de chuva. Ao contrário do combinado, a vela veio muito encardida para a projeção, mas ainda assim era maior que a retangular limpa que tínhamos para substituir. Não havia outra branca no local, visto que muitas estavam ainda mais encardidas ou cheias de propaganda impressa.

A solução também não tardou a chegar. Os jangadeiros e uma parte da equipe do projeto estenderam a dita cuja numa quadra de futebol ao lado da praia e a pintaram de cima abaixo com uma lata de cal e um rolo de algodão. Foi a primeira vez que literalmente produzimos uma vela branca em tempo recorde e sem dar nenhum ponto com linha e agulha.

Na pré-produção da itinerância, decidimos trabalhar cenograficamente todas as sessões a partir desta temporada, decorando coqueiros com fitas coloridas (anteriormente isso só acontecia no Acenda uma Velinha) e as areias com esteiras de palha e tochas de fogo. Pensado, dito e feito: a praia ficou tão bonita quanto uma grande lona de circo mambembe, com as fitas coloridas a se bulirem com o vento, formando um círculo em volta da vela. Estendemos esteiras na areia que mais tarde foram predominantemente ocupadas por cerca de 120 crianças inquietas.

O céu estava limpo quando a noite caiu e a vela acendeu com o cinema, abrindo a 5ª temporada do Acenda uma Vela. Começamos com o Acenda uma Velinha, que pela quantidade de crianças se estendeu um pouco mais do que o normal, com a exibição de sete curtas-metragens infantis ou que tinham crianças como personagens ou que cairiam no gosto delas com facilidade. MEOW (Marcos Magalhães, BSB), como de costume, arrancou gritos e gargalhadas dos menores, ao passo que os últimos da mostra infantil, TITÃS (Daniele Amaral, CE) e SWEET KAROLYNNE (Ana Bárbara Ramos, PB), intrigaram os dois tipos de público.

Hermano sorteou ao microfone os kits de leitura do Acenda uma Vela para as crianças, que receberam velinhas numeradas para concorrer ao prêmio. 10 kits com livros infantis e doces foram disputados durante toda a sessão e conseguiram despertar opiniões contundentes sobre os filmes até dos mais tímidos e acabrunhados. Gostei do filme do gato e daquele outro, disse José Henrique, o primeiro sorteado.

A mostra principal foi aberta com PALÍNDROMO (Barcinski, SP) quando cerca de 320 pessoas enchiam as esteiras, cadeiras de plástico e de praia na areia. Em uma contagem rápida, espantei-me ao ver mais de vinte crianças se espremendo na maior diversão em uma única esteira de palha na frente da vela. A maioria dos presentes eram pescadores e moradores do povoado e grande parte nunca tinha visto o cinema em uma tela grande.

As animações para adultos dominaram a mostra, com a exibição de curtas lendários como GAROTA DAS TELAS (Cao Hamburguer, SP) e FRANKSTEIN PUNK (Cao Hamburguer e Eliana Fonseca, SP), além de VIDA MARIA (Márcio Ramos, CE) e O JUMENTO E O SANTO E A CIDADE QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR (Leo D. e William Paiva, PE) numa espécie de retrospectiva das edições anteriores.

A mostra foi longa e resolvemos continuar exibindo até que não houvesse nenhum par de olhos para assistir. Terminamos com 30 pessoas fiéis e ainda encantadas com o cinema na vela com a exibição do curta A DISTRAÇÃO DE IVAN (Cavi Borges, RJ). Ao celular, uma mulher resmungava ao ouvir os pedidos do marido para que voltasse para casa antes da vela se apagar - atrapalhando o meu cineminha na praia rapaz, aí já é demais.

Terminamos de desmontar os equipamentos e limpar a areia quando já era meia-noite. Voltamos somente no meio-dia seguinte, após acordar cedo para um passeio de barco a convite do nosso anjo Nego. Apesar do verde ainda brilhante do mar, o dia não estava ensolarado. Parecia mesmo que as nuvens só tinham se afastado na noite anterior para o cinema se aproximar. Sorte nossa.

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]
[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]

[foto / Nataska Conrado]


[filmes exibidos na sessão 1]

/Acenda uma Velinha:
LEONEL PÉ-DE-VENTO [ Jair Giacomini
Animação, 15 min / 2006 / RS]
O PATO [Andres Lieben
Animação, 2 min / 2003 / RJ]
MEOW [Marcos Magalhães
Animação, 8 min / 1981 / RJ]
HISTORIETAS ASSOMBRADAS
(PARA CRIANÇAS MALCRIADAS)
[Vitor-Hugo Borges
Animação, 15 min / 2005 / SP]
ATÉ O SOL RAIÁ [Fernando Jorge e Leanndro Amorim
Animação, 11 min / 2007 / PE]
TITÃS [Daniele Amaral
Documentário, 2009 / CE]
SWEET KAROLYNNE [Ana Bárbara Ramos
Documentário, 15 min / 2009 / PB]

/Programação Geral:
PALÍNDROMO [Philippe Barcinski
Ficção, 11 min / 2001 / SP]
CINE HOLIÚDE – O ASTISTA CONTRA O CABA DO MAL [Halder Gomes
Ficção, 15 min / 2004 /CE]
DESALMADA E ATREVIDA [Pedro da Rocha
Ficção, 25 min / 2008 / AL]
O JUMENTO SANTO E A CIDADE
QUE SE ACABOU ANTES DE COMEÇAR
[Leo D e William Paiva
Animação, 11 min / 2007 / PE]
FRANKSTEIN PUNK [Cao Hamburguer e Eliana Fonseca
Animação, 12 min / 1986 / SP]
A GAROTA DAS TELAS [Cao Hamburguer
Animação, 15 min / 1988 / SP]
VIDA MARIA [Márcio Ramos
Animação, 9 min / 2006 / CE]
A DISTRAÇÃO DE IVAN [Cavi Borges
Ficção, 15 min / 2009 / RJ]

Nenhum comentário: